quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Caju para tratar o câncer

Ciências
Caju para tratar o câncer

Químico da UnB descobre que óleo da casca da castanha da fruta tem o potencial de eliminar até 80% das células que provocam a doença

Lívia Nascimento
Da Equipe do Correio
Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press
Wellington Gonzaga passou dois anos estudando as propriedades do caju: resultado promissor
Uma fruta típica do nordeste brasileiro, apreciada pelo uso na produção de doces, sucos e em um dos petiscos mais apreciados, a castanha de caju, tem potencial de ser uma alternativa inovadora e barata no tratamento do câncer de boca e de mama. Essa foi uma das constatações do químico Wellington Alves Gonzaga em sua tese de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) no primeiro semestre deste ano. O trabalho estudou as substânci as que compõem o óleo extraído do interior da casca da castanha, em especial do ácido anacárdico e o cardanol.

Durante dois anos, o pesquisador, que também trabalha como professor da Secretaria de Educação, realizou seus estudos nos laboratórios de Ciências da Saúde e Química da UnB. Entre tubos de ensaio, bicos de Bunsen e elementos químicos, Wellington descobriu que, em alguns casos, as substâncias extraídas do óleo e processadas em laboratório têm o poder de destruir até 70% das cé lulas cancerígenas de mama e até 80% das células que provocam o câncer de boca. A extração do óleo é uma tarefa delicada: a castanha precisa ser cortada e superaquecida com etanol para a retirada do líquido, que ainda é pouco valorizado no Brasil. Atualmente, quando ele não é descartado pelas indústrias após a torrefação, é vendido para empresas no exterior a preços irrisórios. Essas empresas fazem o processamento do óleo, que é revendido para o país a preços elevados.

O pesquisador re ssalta que é preciso ter cautela quanto ao uso da substância para o tratamento da doença. Uma descoberta como essa, estima, leva até 10 anos para se reverter em medicamentos, quando isso ocorre. “Depende de outros estudos, mas a pesquisa deu um norte para quem quiser continuar nessa linha. Só depois de passar por uma série de experiências e testes será possível definir se isso vai se transformar mesmo em um medicamento”, detalhou. Um caminho possível em novos estudos incluiria testes em animais , como ratos e outros mamíferos. Só depois teriam início as experiências em humanos.

A realização da pesquisa foi uma tarefa árdua para o químico de 31 anos que trabalha como professor da disciplina em uma escola da cidade. “Não temos incentivos para trabalhar com a pesquisa. É difícil se dedicar a estudos como esse, pois o trabalho é complexo e exige dedicação. Não temos incentivo para a dedicação exclusiva. Cheguei a dormir duas horas por noite”, lembrou.

A orientadora do trabalho, Maria Lucília dos Santos, destaca o ineditismo da dissertação. “É a primeira pesquisa no Brasil com o objetivo de preparar um medicamento de combate ao câncer tendo como objeto o óleo de castanha de caju”, afirmou. A relevância é ampliada pelas estatísticas do Instituto Nacional de Câncer, que estima em 660 o índice de casos de câncer de mama para cada grupo de 100 mil mulheres.

A professora do Instituto de Química da UnB também estuda o líquido proveniente da castanha. Uma das linhas desenvolvidas em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a da transformação dos constituintes do óleo em substâncias com maior valor agregado, como, por exemplo, o protetor solar. Algumas das novas substâncias sintetizadas pela equipe apresentaram elevado fator de proteção contra os raios solares.

CUIDADOS PALIATIVOS EM DISCUSSÃO
Médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais se reúnem até amanhã em Brasília para discutir ações de cuidados paliativos para pessoas que sofrem com doenças crônicas, progressivas e sem chance de cura. Eles participam do III Congresso Internacional de Cuidados Paliativos no Auditório Ulysses Guimarães da Universidade Paulista, na 913 Sul. O objetivo dos 600 participantes é reivindicar políticas públicas para serem implantadas pelo governo. “Precisamos garantir a qualidade de vida do paciente até o fim com apoio físico, mental e espiritual”, explicou a médica Anelise Carvalho, uma das organizadoras.

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