Caju para tratar o câncer
Químico da UnB descobre que óleo da casca da castanha da fruta tem o potencial de eliminar até 80% das células que provocam a doença
Lívia Nascimento
Da Equipe do Correio
Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press |
Wellington Gonzaga passou dois anos estudando as propriedades do caju: resultado promissor |
Durante dois anos, o pesquisador, que também trabalha como professor da Secretaria de Educação, realizou seus estudos nos laboratórios de Ciências da Saúde e Química da UnB. Entre tubos de ensaio, bicos de Bunsen e elementos químicos, Wellington descobriu que, em alguns casos, as substâncias extraídas do óleo e processadas em laboratório têm o poder de destruir até 70% das cé lulas cancerígenas de mama e até 80% das células que provocam o câncer de boca. A extração do óleo é uma tarefa delicada: a castanha precisa ser cortada e superaquecida com etanol para a retirada do líquido, que ainda é pouco valorizado no Brasil. Atualmente, quando ele não é descartado pelas indústrias após a torrefação, é vendido para empresas no exterior a preços irrisórios. Essas empresas fazem o processamento do óleo, que é revendido para o país a preços elevados.
O pesquisador re ssalta que é preciso ter cautela quanto ao uso da substância para o tratamento da doença. Uma descoberta como essa, estima, leva até 10 anos para se reverter em medicamentos, quando isso ocorre. “Depende de outros estudos, mas a pesquisa deu um norte para quem quiser continuar nessa linha. Só depois de passar por uma série de experiências e testes será possível definir se isso vai se transformar mesmo em um medicamento”, detalhou. Um caminho possível em novos estudos incluiria testes em animais , como ratos e outros mamíferos. Só depois teriam início as experiências em humanos.
A realização da pesquisa foi uma tarefa árdua para o químico de 31 anos que trabalha como professor da disciplina em uma escola da cidade. “Não temos incentivos para trabalhar com a pesquisa. É difícil se dedicar a estudos como esse, pois o trabalho é complexo e exige dedicação. Não temos incentivo para a dedicação exclusiva. Cheguei a dormir duas horas por noite”, lembrou.
A orientadora do trabalho, Maria Lucília dos Santos, destaca o ineditismo da dissertação. “É a primeira pesquisa no Brasil com o objetivo de preparar um medicamento de combate ao câncer tendo como objeto o óleo de castanha de caju”, afirmou. A relevância é ampliada pelas estatísticas do Instituto Nacional de Câncer, que estima em 660 o índice de casos de câncer de mama para cada grupo de 100 mil mulheres.
A professora do Instituto de Química da UnB também estuda o líquido proveniente da castanha. Uma das linhas desenvolvidas em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a da transformação dos constituintes do óleo em substâncias com maior valor agregado, como, por exemplo, o protetor solar. Algumas das novas substâncias sintetizadas pela equipe apresentaram elevado fator de proteção contra os raios solares.
CUIDADOS PALIATIVOS EM DISCUSSÃO
Médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais se reúnem até amanhã em Brasília para discutir ações de cuidados paliativos para pessoas que sofrem com doenças crônicas, progressivas e sem chance de cura. Eles participam do III Congresso Internacional de Cuidados Paliativos no Auditório Ulysses Guimarães da Universidade Paulista, na 913 Sul. O objetivo dos 600 participantes é reivindicar políticas públicas para serem implantadas pelo governo. “Precisamos garantir a qualidade de vida do paciente até o fim com apoio físico, mental e espiritual”, explicou a médica Anelise Carvalho, uma das organizadoras.
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